Trabalhos acadêmicos

 Ideal de branqueamento no Rio Grande do Sul formação do imaginário étnico gaúcho








1-Introdução
Os estudos, no âmbito das ciências sociais como a história e a antropologia, e autores da “velha” historiografia positivista: Moises Velhinho, Manoelito de Ornellas, Amyr Borges Fortes, Riograndino da Costa e Silva, Guilhermino Cesar, trataram de deixar para as gerações futuras um ideal de imaginário onde a origem do gaúcho seria de imigrantes europeus de pele muito clara, tirando dos rio-grandenses a cultural africana. A desculpa “esfarrapada” do mito da democracia pastoril tinha como objetivo abrandar as luta dos cativos que aqui estavam, e posteriormente de seus predecessores, e trazer a falsa idéia de que nos pampas tivemos uma escravidão mais branda. Toda esta construção ideológica fazia parte do ideal de branqueamento que estava sendo produzida no Brasil, e era apoiada pelo Estado brasileiro após a abolição, que defendia a miscigenação como solução dos problemas do Brasil, pois, segundo seus idealizadores o branco era ideologicamente superior ao negro e através da “cruza” do branco com o negro a tendência era de o negro se diluir e a população brasileira ficaria cada vez mais clara ou mestiça, esta teoria foi defendida por João Batista de Lacerda (1846-1915) [1]. Outro ideólogo da teoria do branqueamento era Oliveira Viana (1883-1951) que apesar de ser mestiço era uma das principais vozes da ideologia racial do Estado brasileiro nas primeiras décadas do século XX.

 Seguindo nossa viagem na desconstrução da “velha” História e como forma de ilustração não podemos deixar de mencionar um dos mais conhecidos e respeitados escritores gaúchos, Érico Veríssimo com sua épica trilogia “O Continente” que tratava o afro-gaúcho como uma simples paisagem um mero móvel decorativo sem nenhuma importância na construção cultural e social da população gaúcha. Em âmbito nacional tivemos Monteiro Lobato, também escritor renomado, que enviou uma carta a um amigo relatando uma viagem que teve ao Rio de Janeiro, nela o autor comenta que os africanos se vingaram dos portugueses e através da miscigenação a feiúra e o mau comportamento podia ser notada como herança maldita que os afros deixaram para a sociedade brasileira.
Sistematicamente, trabalharei neste pequeno ensaio o conceito de Branqueamento, que será melhor explicado no decorrer deste estudo, para balizar e justificar as idéias racistas da época. A organização deste ensaio se fará através de capítulos e para iniciar se fará presente, de forma muito breve, a origem dos primeiros afro-gaúchos no Estado do Rio Grande do Sul suas principais contribuições na cultura religiosa gaúcha, numa perspectiva de estratégia de resistência a escravidão por parte dos africanos escravizados e seus descendentes. No segundo capítulo, partiremos para uma “viagem” na construção do imaginário gaúcho, conceito que Mario Maestri trabalha com competência.  No terceiro capítulo será analisado o papel do Estado brasileiro em relação às desigualdades raciais. Para finalizar este trabalho, o último capitulo, trabalhará com a análise dos movimentos sociais negros seu surgimento e a forma que atuaram frente à descriminação e o preconceito até chegarem as suas conquistas.


2-Os primeiros afro-gaúchos 
Este capítulo buscará dar conta de apresentar a origem dos afro-gaúchos, do ponto de vista do processo histórico no Brasil e em particular no Rio Grande do Sul. Bem como apresentar alguns traços culturais no Rio Grande do Sul, a partir da perspectiva de analise historiográfica.
A respeito da origem dos africanos que vieram para o Rio Grande do Sul, muitos não mantiveram seus nomes originais, fato que dificulta o reconhecimento da sua origem e aqueles que receberam um “batismo” como segundo nome, aquele que ganhara no porto qual foi embarcado não pode ser confiável como sua terra de origem, pois, a maioria dos escravos vinham de outros lugares eram vendidos em portos muito distantes de suas aldeias.  Mesmo assim, existem muitas fontes que nos ajudam a pesquisar a terra natal dos afro-gaúchos a respeito disso Mario Maestri diz:
Nos últimos anos, os avanços conhecidos pela genética aplicada permitem inquirir a origem das comunidades afro-americanas. Tais estudos já começaram a ser realizadas no Rio Grande do Sul. Nos próximos anos, com o desenvolvimento dessas técnicas, teremos informações importantes sobre esse domínio. [2]
          Outras fontes também podem nos ajudar a encontrar a origem destes africanos que vieram para os pampas gaúchos entre elas podemos destacar: a documentação histórica e o culto as religiões afro-gaúchas, e as contribuições africanas no folclore, fez com que, nesse “caldeirão” encontraremos as raízes do africano gaúcho. Temos a presença do escravo no Rio Grande do Sul desde 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento e, mas este não se fixando em solo gaúcho neste momento. O comércio de escravos era comum na Colônia da Sacramento ainda mais depois da proibição da Inglaterra em 1850. O Rio Grande do Sul, nesta época tornou-se o maior exportador interprovincial de escravo do Brasil, abastecendo os barões do café com escravos e charque para alimentar estes trabalhadores.
Entre as etnias que vieram para o sul podemos encontram-se os congoleses, angolanos, maçanganos, benguelas, moçambicanos, da costa de Mina e do Cabo Verde seu tronco lingüístico predominou o Banto, mas, nada impede que um grupo iorubá esteja entre estes. A população da província de São Pedro estava contemplada de negros escravos na função de peões de estâncias ao lado de peões índios ou gaúchos assalariados.  
Percebe-se, que a resistência ao trabalho pelo escravo sempre esteve presente nos diversos ciclos econômicos existentes no país, de Nordeste a Sudeste e Sul do país, onde predominou o escravismo durante um período entre os séculos XVI ao XIX e que ele se opôs a esta labuta sempre que pode das mais diversas maneiras, entre elas podemos destacar: a fuga, o justiçamento, insurreição, e a própria religião africana com aspectos brasileiros, ou seja, a resistência ao trabalho feitorizado, fato que mais profundamente determinou a sociedade escravista.  Para que se obtivesse a produção, o escravo teve que ser estreitamente vigiado e controlado. A toda hora o escravo fazia de tudo para fugir daquela maldita labuta diária, isso fez com que os seus atos lhe colocassem “rótulos” como: cativo preguiçoso, irresponsável e molenga. Não era nenhum prazer trabalhar nas fazendas e sim um castigo isso justificava toda a sua malemolência no trato com o trabalho, ou seja, ele trabalhava mal porque era escravizado, tinha ódio do trabalho porque era estritamente violentado na sua condição humana. O ativo boçal do engenho movendo-se como um “zumbi” tornava-se o produtor criativo e industrioso do mocambo. O trabalhador escravizado só produzia mais que o trabalhador livre se ele fosse vigiado, surrado e castigado, caso o contrário, seu trabalho era improdutivo.
A igreja também lembrava a necessidade de castigar o escravo. Mas o escravo respondia violentamente a estas condições que lhe eram impostas, e isso fazia com que a sociedade escravista temesse sobremaneira a ira vingativa do cativo. Esse temor assombra ainda o imaginário das chamadas elites nacionais. Sequer o medo à morte ou martírio deteve o cativo em cólera. A documentação coesa é abundante em atos de sangue perpetrados pelos trabalhadores escravizados contra proprietários e seus senhores. A maneira simples segura e rápida de um cativo libertar-se do trabalho compulsório era a fuga ou o suicídio. Durante toda a escravidão, o Rio Grande do Sul conheceu importante população de trabalhadores escravizados e fugidos. O destino deles podia variar devido à época, região e conjuntura política. Nos pampas gaúchos existiu uma grande quantidade de quilombos, mas as fugas para os territórios como, o Uruguai, reduzia esse número no Rio Grande do Sul. A fuga do escravo desde 1575 obrigou os escravizadores a criarem uma casta de trabalhadores especializados em capturar os escravos que fugiam, estes eram os capitães do mato, profissão regulamentada desde 1720 este era geralmente mulato ou um homem liberto ou livre, mas raramente escravizado. Fortemente armado e auxiliado por cães, era pago distintamente se o fujão fosse capturado numa cidade, distante de sua residência ou em um quilombo. Mas, a recompensa pela captura de um cativo unia a população livre contra o fujão, tornando infernal a vida dos fujões que procuravam passar despercebidos em uma cidade.
Assim sendo, as origens do afro-gaúcho, apesar de ainda muito a ser pesquisada, pode ser localizada entre os povos do grupo linguístico banto, estes por sua vez estão no Rio Grande do Sul desde a fundação da Colônia do Sacramento, mas sem se fixarem nesta época com o funcionamento e a produção das charqueadas em Pelotas e nas freguesias próximas. Os escravo gaúcho, “fincou seus pés" em solo gaúcho e legou a todos os pianos sua tradição, sua religiosidade seu folclore seus deuses e a sua alegria e sabedoria de viver.  

3- A Construção do imaginário gaúcho
A seguir serão apresentados alguns aspectos do imaginário étnico gaúcho, o branqueamento como forma de construção ideológica objetivando seguir os preceitos de tal conceito racista. Para excluir e passar para as gerações futuras que o Rio Grande do Sul era um Estado onde a presença do negro teria sido mínima e todos seriam originários de populações européias, imigrantes e de pele clara e a partir da perspectiva abrandaria a luta dos afro-gauchos.
Apesar de ser constatada pela historiografia a presença do africano nos pampas gaúchos desde 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento no Rio Grande do Sul, e este Estado ter se tornado o maior exportador interprovincial de escravos do Brasil, em meados de 1850 com a proibição do tráfico além mar pela Inglaterra e de termos a presença do negro, sendo este percebido na cultura como a dança, alimentação e na religiosidade onde se encontram os maiores cultos de religiões de matriz africanas do Brasil, ainda permeiam entre a população os antigos conceitos de que na terra gaúcha a presença do escravo foi mínima, que o branqueamento funcionou bem. O imigrante quando veio colonizar a estas terras “diluiu” o negro e nos tornamos uma população mestiça, ou seja, predominou o branco, ítalo-germânico e que veio para estes pagos e nos legou uma história de trabalho e superação.
Esta construção ideológica permeia o Rio Grande do Sul e ajudou a construir este equivoco foram os historiadores gaúchos da linha de pensamento Positivista entre eles podemos destacar: Salis Goulart, Moises Vellinho, Manoelito de Ornellas, Amir Borges Fortes, Rio grandino da Costa e Silva[3]. Estes apresentaram o Estado gaúcho como fruto de quase exclusivo do trabalho livre colocando o escravo gaúcho com um papel insignificante neste processo. É notório que o imigrante no inicio teve muitas dificuldades, mas nada comparável ao trabalho forçado do cativo, o imigrante tinha a ajuda da sua família tinha ferramentas e onde morar o escravo superou todas as dificuldades sem nada disso, se alguém merece o título de superação este é o escravo em qualquer parte do território nacional. A respeito destas considerações Mario Maestri fala com propriedade:
[...] Tal visão desconhece igualmente as condições em que os trabalhadores escravizados alcançavam a liberdade: sem acesso a terra; sem instrumentos de trabalho; sem famílias; sem capitais etc. [...] sofreram, na pós-abolição, sempre a pressão e a discriminação de uma sociedade profundamente racista.[4]           
Dos séculos XVIII ao XIX o escravo trabalhou no Rio Grande do Sul nas charqueadas, olarias, fazendas, transporte lacustre e pluvial, produção artesanal e manufaturas. Desta forma, o imaginário étnico gaúcho pressupõe que a população gaúcha acredita ser resultante do trabalho livre, luso-brasileira ou ítalo germânico. Isso não é um esquecimento é proposital e serve para fortalecer as tendências racistas. Temos de nos ater que vieram pra os pampas gaúchos dois grupos: os colonizadores que eram representados pelos senhores donos de terras e de escravos e que se estabeleciam no alto da Pirâmide. O outro grupo era estava na base eram os que trabalhavam e eram os dominados, estes por sua vez se mantinham em uma situação economicamente e socialmente inferior a dos seus senhores e tinham pouca chance de ascender, pelo contrário, tendiam a descender. O racismo e o branqueamento entre diretamente nesta idéia como forma de não dar oportunidade do negro de ascender socialmente através de preconceitos racistas e de valores epidérmicos estigmatizadores onde se descrevia que o branco era excelente e o negro degradante. Daí a construção ideológica do gaúcho sendo ele oriundo de povos europeus. Outras formas de branqueamento no Rio Grande do Sul podem ser percebidas na obra o “Tempo e o Vento” de Erico Veríssimo onde o negro é mencionado como mera paisagem, ou como um móvel, mero aspecto decorativo.
O mito da democracia pastoril fazia parte deste imaginário onde se pregava que a escravidão nos pampas tinha sido muito branda que o fazendeiro inclusive era padrinho dos filhos do negro     que tomava cachaça e chimarrão com seus escravos e que pelas grandes extensões de terra seria muito difícil manter o escravo preso. Para contradizer isso Maestri comenta:
O caráter seminatural e, portanto, semi-social da produção pastoril determinou que ela funcionasse com um número relativamente pequeno de trabalhadores. Sobretudo nas estâncias maiores, os cativos eram empregados nas atividades mais pesadas e duras-construção de cercas, manutenção dos caminhos, plantações, transportes de água e lenha etc.-nas tarefas pastoris, ao lado de trabalhadores livres.[5]   
Dessa forma, o imaginário gaúcho de um sociedade oriunda da imigração teuto-italiana e alemã que se traduz em um messianismo “que deu certo” história de superação onde o Rio Grande do Sul é fruto do trabalho livre branco e bem sucedido exclui e elimina aqueles que realmente trabalharam nesta terra, que realmente se superaram que deram seu sangue por uma terra que não escolheram como casa, os afros e os caboclos. Estes por sua vez foram marginalizados, denegridos e “colocados nas suas testas rótulos” de incapaz, indisciplinado, inferior. Mas estes mesmos trabalhadores escravizados conseguiram sua liberdade sem acesso a terra, nem ferramentas, longe de suas famílias e a custo de muito preconceito racial.   

4-O papel do Estado brasileiro em relação às desigualdades raciais
Agora verificaremos como o Estado brasileiro estava tratando os ex-escravos com suas teorias racistas de branqueamento, onde segundo teóricos da época a mestiçagem deveria a contecer pois os problemas do Brasil vinham dos africanos e estes deveriam ser encobridos e diluidos pelo branco. Para tanto ideólogos como João Batista de Lacerda (1846-1915)[6]  e Oliveira Viana (1883-1951) que apesar de ser mestiço era uma das principais vozes da ideologia racial do Estado brasileiro nas primeiras décadas do século XX, ou seja o branqueamento. Mas por ironia do destino outro Oliveira, só que Silveira seria um dois maiores lideres do movimento negro no Brasil, mas será tratado no último capítulo quando será analisado o movimento negro brasileiro.   
Em 1890, o presidente Deodoro da Fonseca e pelo ministro da Agricultura Francisco Glicério assinaram o decreto no 528 que determinava que a entrada de imigrantes da África e da Ásia dependeria da autorização do Congresso Nacional. O mesmo decreto não restringia, até incentivava, a imigração de europeus. O decreto teve que ser revogado em 1907 para permitir a entrada de imigrantes japoneses. Em 1902, o governo da Itália emitiu o decreto Prinetti que proibiu a imigração subsidiada de italianos para o Brasil. As fazendas de café sentiram a falta de trabalhadores com a diminuição da chegada de imigrantes e, então, o governo brasileiro passou a aceitar o recebimento de imigrantes japoneses, que se iniciou em 1908. Mas se a pouco tempo os escavos haviam sido libertos, e é sabido que isso não foi um concessão mas sim uma conquista deles unido a conjuntura do capital internacional, por que não foi utilizada a mão-de obra escrava se eles agora seriam trabalhadores em grande quantidade naquele momento? Para responder esta resposta busquei em  Clóvis Moura tese central de seu livro (Dialética Radical do Brasil Negro, 1994) onde ele explica:
[...] que passagem do escravismo pleno para o escravismo tardio. O bloco de poder escravista criou o caminho para a substituição desse tipo de escravismo em decomposição pelo trabalho livre que se apresentava cada vez mais no processo de transição para a nova ordem mundial econômica, o capitalismo. Ou seja, a substituição do trabalho escravo pelo livre. Os entraves que preocupavam este bloco de poder estavam representados pelo trabalho escravo e a terra. A mão de obra escrava era tida como incapaz de suprir as necessidades do trabalho exigidas pela economia cafeeira.[7]

Seguindo a linha de raciocínio do autor a terra estava sempre ligada ao poder central e isto foi agravado com a lei de terras de 1850, distanciando cada vez mais o escravo da condição digna de trabalhador livre. Segundo esta lei, o Império venderia as terras para aqueles que tinham como pagar e, evidentemente sem dinheiro para pagar, os escravos ficavam cada vez a margem do sistema.  Isso foi uma estratégia de dominação para perpetuar os privilégios dos poderosos sobre os trabalhadores escravos. Outro aspecto que bloqueava o acesso da terra pelos escravos foi à vinda dos imigrantes para o Brasil. Estes, por sua vez, ocuparam o lugar dos escravos após abolição, com ela os escravos foram colocados a margem da sociedade e do trabalho livre este foi ocupado pelo imigrante que tanto no regime de colonato como posteriormente também sofreu a agruras de receber um tratamento quase escravo desta forma, esteve mais uma vez minada de ascensão e de posse da terra pelos escravos, ou seja, o preconceito racial prevaleceu.           
Na primeira metade do século XX durante a Assembléia Nacional Constituinte, adotou a ideia de "branqueamento" da população brasileira a entrada de imigrantes europeus foi defendida pelos intelectuais como Oliveira Viana e João Batista de Lacerda como a única solução para a saída dos problemas do Brasil, ninguém seria mais negro ou preto, mais sim, brancos através do cruzam ento de casais mistos. Segundo as idéias de Oliveira Viana em 2012 não haveriam mais negros no Brasil. O Estado brasileiro apoiou tanto esta idéia de branqueamento de pensamento racista que foi vinculado num documento oficial do governo demosntrando que apoiava os preceitos de Oliveira Viana com a entrada de imigrantes no Brasil para contribuir com a miscigenação.
Assim sendo, o Estado brasileiro contribuiu muito para perpetuar e fincar as raízes do preconceito racial no seu território. Unido as teorias de branqueamento, um racismo a brasileira, que apesar de não ter nascido no Brasil, e de ser um projeto político das Américas encontrou nestas terras um solo fértil para germinar todo tipo de preconceito contra o negro e utilizando de todo tipo de artifício para prejudicar, alterando a constituição com a proibição da entrada de negros no país, ou a venda de terras para quem podia pagar ou até mesmo dando trabalho para os imigrantes ao invés de empregar aquela massa de população negra que havia saído do processo de escravidão ajudou a perpetuar e agravar as desigualdades no Brasil.

5-Os movimentos sociais negros
Para findar este trabalho, vamos ver como os movimentos sociais negors se apresentaram  diante destes desafios, e eram muitos, e figuram ímpares como Abdias do Nascimento e Oliveira Silveira serão pontos de estudo para fundamentar este fragmento do trabalho. E como não poderia deixar de ser, para “amarrar” este estudo que se ateve no imaginário gaúcho excluindo o afro da sua história começaremos a relatar como se deu os primeiros movimentos reivindicatórios negros no Rio Grande do Sul, posteriormente entraremos no âmbito nacional do do movimento negro.
Em 1907, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, um grupo de intelectuais negros se une para fundar o jornal “A Alvorada” este concretizado 19 anos depois da abolição da escravatura no Brasil, A Alvorada, pretendeu desde seu primeiro número ser uma tribuna de defesa dos operários e dos negros de Pelotas e teve a maior longevidade desta fase denominada de imprensa negra. No início do século 20, Pelotas, era uma cidade em pleno processo de industrialização e que tinha nos descendentes dos escravos sua principal fonte de mão-de-obra. Entre os redatores do A Alvorada um dos que mais se destacou foi Rodolpho Xavier. No Primeiro Congresso Nacional do negro, realizado na cidade de Porto Alegre no ano de 1958 a capital gaúcha recebeu delegações dos estados do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, contando com a presença de estudiosos, pesquisadores, intelectuais brancos e negros e a comunidade.
Tendo como principais centros de mobilização as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, os movimentos sociais afro-brasileiros começam a trilhar novos caminhos a partir de meados dos anos 1910, numa tentativa de lutar pela cidadania recém-adquirida e evoluir para organizações de âmbito nacional. A primeira grande manifestação neste sentido é o surgimento da imprensa negra paulista, na década de XX cujo primeiro jornal, O Menelick, começa a circular em 1915. Seguem-lhe A Rua (1916), O Alfinete (1918), A Liberdade (1919), A Sentinela (1920), O Getulino e o Clarim d' Alvorada (1924). Esta onda perdura até 1963, quando foi fechado o Correio d'Ébano. Estes jornais possuíam como característica principal, o fato de não se envolverem na cobertura dos grandes acontecimentos nacionais mas sim as quetões raciais.
É também graças a esse caldo de cultura ideológico propiciado pela imprensa negra paulistana, que se desenvolve nos anos 1930 um dos mais interessantes movimentos afro-brasileiros de caráter nacional, a Frente Negra Brasileira (FNB). Esta, por sua vez, se anunciava como grito das classes negras no Brasil
A Frente Negra, um movimento de massas, pretestava contra a discriminação racial que alijava o negro da economia industrializada, esplhando-se para vários cantos do território nacional. A segregação nos cinemas, teatros, barbearias, hotéis, restaurantes [...] consciência política afro-brasileira. [8]  
Fundada em 16 de Setembro de 1931, graças a uma forte organização centralizada na figura de um "Grande Conselho" de 20 membros, presidida por um "Chefe" (o que lhe valeu a acusação de movimento fascista), e contando com milhares de associados e simpatizantes, a FNB teve uma atuação destacada na luta contra a discriminação racial, tendo sido, por exemplo, responsável pela inclusão de negros na Força Pública de São Paulo. Depois dos êxitos obtidos, a FNB resolveu constituir-se como partido político, e nesse sentido, deu entrada na Justiça Eleitoral em 1936.
Todavia, a vida da FNB enquanto partido foi curta. Em 1937, com a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas, todos os partidos políticos, inclusive a Frente Negra, foram declarados ilegais e dissolvidos. A partir daí e praticamente até a Redemocratização, em 1945, os movimentos sociais negros tiveram de recuar para suas formas tradicionais de resistência cultural. A única possível exceção neste período, mas que se insere no contexto de resistência cultural, deve-se à ação de Abdias do Nascimento, que em 1944 no Rio de Janeiro, fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN). Nascimento foi o responsável por expressiva produção teatral onde buscava dinamizar "a consciência da negritude brasileira" e combater a discriminação racial. Conforme expressou o próprio Nascimento:
Fundando o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944, pretendi organizar um tipo de ação que um tempo tivesse significação cultural, valor artístico e função social. De início havia a necessidade urgente do resgate da cultura negra e seus valores, violentados, negados, oprimidos e desfigurados. Depois de liquidada legalmente a escravidão, a herança cultural é que ofereceria a contraprova do racismo, negador da identidade espiritual da raça negra, de sua cultura de milênios. O próprio negro havia perdido a noção de seu passado[9]
Embora esta nova atitude tenha significado uma maior participação da militância negra na política brasileira, nem sempre os partidos de esquerda, como se poderia imaginar, foram os responsáveis pelos avanços mais notáveis na luta antidiscriminação. Na verdade, impregnada de uma ideologia eurocêntrica reducionista, que tinha como parâmetro um determinismo economicista, a esquerda brasileira historicamente minimizou a questão das relações sociais, inserindo-as no âmbito do conflito capital e trabalho e muitas vezes acuzou Abdias e seu movineto de estar praticando o racismo as avessas. A questão racial também entrou para a pauta de discussão das centrais sindicais a partir da década de 1990.
O V Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), reconheceu a importância da temática racial para a organização dos trabalhadores. A Central Geral dos Trabalhadores (CGT), foi responsável pela organização de um Seminário Nacional de Sindicalistas Anti-Racistas em 1990, no Rio de Janeiro, o qual resultou numa Comissão Nacional Contra a Discriminação Racial, e a Força Sindical (FS) reestruturou a sua Secretaria Nacional de Desenvolvimento da Igualdade Racial.
Da mesma forma que no âmbito nacional os descendentes de escravos so mobilizavam no sul não era diferente o Movimento Negro no Rio Grande do Sul inicio-se em 1907, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, um grupo de intelectuais negros se une para fundar o jornal A Alvorada. Concretizado 19 anos depois da abolição da escravatura no Brasil, A Alvorada, pretendeu desde seu primeiro número ser uma tribuna de defesa dos operários e dos negros de Pelotas. Segundo Santos (2003), A Alvorada, provavelmente, seja o periódico de maior longevidade desta fase denominada de imprensa negra. No início do século 20, Pelotas, era uma cidade em pleno processo de industrialização e que tinha nos descendentes dos escravos sua principal fonte de mão-de-obra. Entre os redatores do A Alvorada um dos que mais se destacou foi Rodolpho Xavier.
Também ocorreu neste estado o Primeiro Congresso Nacional do negro, realizado na cidade de Porto Alegre no ano de 1958. Por ocasião desse acontecimento, a capital gaúcha recebeu delegações dos estados do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, contando com a presença de estudiosos, pesquisadores, intelectuais brancos e negros e a comunidade.
Concluindo, os movimentos negros no Brasil demonstram mais um modelo de superação e de criatividade perante as dificuldades desde o Teatro Experimental Negro até a Frente Negra Brasileira. Galgaram uma marcha que ainda não acabou, lutam contra a descriminação e a segregação racial políticas compensatórias são discutidas e colocadas em pauta muitos de seus feitos deve-se a Abdias do Nascimento que reviu o heroi brasileiro colocando ao lado de Tiradentes Zumbi dos Palmares e projetando e concretizando o feriado pela morte deste questionando o 13 de maio como uma data a ser comemorada pelas comunidades negras sendo substituida por 20 de novembro. Outra conquista da comunidade negra foi a entrada de um frente negra na polpitica brasieira que anos pós-Constituição de 1988 registraram avanços nas lutas institucionais dos movimentos afro-brasileiros contra o racismo e mesmo numa maior aceitação por parte da sociedade, da discussão desta temática.  

6-Conclusão
Respondendo as perguntas deste trabalho dou por concluído a partir do momento que foi constatado que as origens do afro-gaúcho pode ser localizada entre os povos do grupo linguístico banto, que estão no Rio Grande do Sul desde a fundação da Colônia do Sacramento, mas sem se fixarem nesta época e com o funcionamento e a produção das charqueadas em Pelotas e nas freguesias próximas o escravo gaúcho, “fincou seus pés" em solo gaúcho e legou a todos os pampianos sua tradição, sua religiosidade seu folclore seus deuses e a sua alegria e sabedoria de viver.  Fica evidente que o imaginário gaúcho de um sociedade oriunda da imigração teuto-italiana e alemã que se traduz em um messianismo “que deu certo” história de superação onde o Rio Grande do Sul é fruto do trabalho livre branco e bem sucedido exclui e elimina aqueles que realmente trabalharam nesta terra, que realmente se superaram que deram seu sangue por uma terra que não escolheram como casa, os afros e os caboclos. Estes por sua vez, foram marginalizados, denegridos e “colocados nas suas testas rótulos” de incapaz, indisciplinado, inferior. Mas os mesmos trabalhadores escravizados conseguiram sua liberdade sem acesso a terra, nem ferramentas, longe de suas famílias e a custo de muito preconceito racial.   
Como era de se imaginar Estado brasileiro contribuiu muito para perpetuar e fincar as raízes do preconceito racial no seu território. Unido as teorias de branqueamento, um racismo a brasileira, que apesar de não ter nascido no Brasil, e de ser um projeto político das Américas encontrou nestas terras um solo fértil para germinar todo tipo de preconceito contra o negro e utilizando de todo tipo de artifício para prejudicar, alterando a constituição com a proibição da entrada de negros no país, ou a venda de terras para quem podia pagar ou até mesmo dando trabalho para os imigrantes ao invés de empregar aquela massa de população negra que havia saído do processo de escravidão o Estado brasileiro ajudou a perpetuar e agravar as desigualdades no Brasil. Mas os movimentos negros no Brasil demonstraram um modelo de superação e de criatividade perante as dificuldades desde o Teatro Experimental Negro até a Frente Negra Brasileira. Galgaram uma marcha que ainda não acabou, lutam contra a descriminação e a segregação racial políticas compensatórias são discutidas e colocadas em pauta muitos de seus feitos deve-se a Abdias do Nascimento que reviu o heroi brasileiro colocando ao lado de Tiradentes Zumbi dos Palmares e projetando e concretizando o feriado pela morte deste questionando o 13 de maio como uma data a ser comemorada pelas comunidades negras sendo substituida por 20 de novembro. Outra conquista da comunidade negra foi a entrada de um frente negra na política brasieira que anos pós-Constituição de 1988 registraram avanços nas lutas institucionais dos movimentos afro-brasileiros contra o racismo e mesmo numa maior aceitação por parte da sociedade, da discussão desta temática. 



























7-BIBLIOGRAFIA


DOMINGUES, Petrônio, Uma História não contada: negro, racismo e branqueamento em SP no pós-abolição, São Paulo: Ed. Sena. 2004
MAESTRI, Mário, Deus é grande o mato é maior: trabalho e resistência escrava no RS, Passo Fundo, UPF. 2002, p. 232
MOURA, Clóvis. Dialética Radical do Brasil Negro, 1994
NASCIMENTO, Abdias . O Negro revoltado. Rio de Janeiro, NASCIMENTO, Abdias, e Elisa NASCIMENTO, Abdias, Larkin Nascimento.Reflexões sobre o Movimento Negro no Brasil, 1938-1997.


[1] DMINGUES, Petrônio , 2004
[2] MAESTRI. Mario. 2002

[3] Ibdem p.184
[4] Ibdem p.194
[5] Ibdem, p.193
[6] DMINGUES, Petrônio , 2004
[7] MOURA, Clóvis, 1994
[8] NASCIMENTO, Abdias
[9] ibdem